7 de fev. de 2007

Ciranda de Meias - Coleção Mais de Perto

Ciranda de Meias, de Jonas Ribeiro e ilustrações de Laz Muniz, é o segundo livro da coleção Mais de Perto, da Editora Dimensão.

Jonas escolheu o discurso poético para contar a história de Marcelo, que tem Síndrome de Down. Marcelo é uma paisagem perdida, uma árvore desfolhada, uma casa comum, uma rua sem estrela. Marcelo se assemelha a ninguém. É um ninguém. Ninguém dá falta dele. Talvez dê da ausência dele. De tanto ver, não vemos. É preciso que uma estrela seja apagada no universo para que sintamos a sua falta.

Marcelo tem muitas solidões. Suas noites são de abismos imensos e seus dias são horas que não acabam nunca. Ele cria uma teoria de que tudo o que acontece de noite é sombrio, enigmático, abstrato. Durante o dia, tudo é concreto, claro, definido. Marcelo sabe que a Síndrome de Down não é nada comparada a outras síndromes. Há tanta síndrome no mundo regido pelos “normais” que Marcelo se perde em tanta indiferença e solidão. Enumera algumas síndromes: do degrau (a gente escolhe um degrau e fica sentado nele a vida toda, como se não houvesse outros degraus e outras escadas); do afastamento (a gente acha que o degrau é uma solução, uma segurança e, à medida que nos fixamos no degrau, nos afastamos do mundo). E outras síndromes que se completam, como a da solidão grande, das lágrimas desobedientes, da saudade da origem. Vontade de voltar a ser feto e ficar por lá enquanto durar a vida.

No palco da rua, os meninos cirandam com bolas de meias. Marcelo quer participar do mundo de Bruno, de Guilherme, de Leandro e de Ana Carolina, mas o degrau não deixa, ele está fixo em seu degrau de dor. O que ele espera para cirandar? Um convite, coragem, um milagre? Mas se há uma batalha, há um vencedor e um vencido. Marcelo levanta-se, vai ao quarto, abre a gaveta da cômoda, retira todas as meias e faz uma ciranda com elas. Mas os meninos têm outras síndromes que descobrem aos poucos: síndrome do umbigo, síndrome da ignorância, do egoísmo, da cegueira e da surdez oportunas. É preciso dar um tchau para estas síndromes e abraçar o mundo e cirandar o mundo. E é isto que fazem. Marcelo desce do degrau, os meninos riem e dão as mãos. O mundo é uma ciranda, um círculo que não se desfaz, uma esfera que espera a mão do outro, o abraço do outro, a síndrome do outro.

Ciranda de Meias é como uma bola de meia. Tudo é redondo. As ilustrações, belíssimas, giram nas páginas, giram nos olhos e giram em torno das palavras de Jonas e a história de Jonas ciranda nos olhos e fica no coração.

Ronald ClaverEscritor.
Revista Presença Pedagógica nº 68, março/abril 2006 – Editora Dimensão, Belo Horizonte/MG.

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