4 de abr. de 2008
2 de abr. de 2008
A BREVE LIÇÃO DE ABSOLUTISMO IGNORANTE
Escreva em um caderninho tudo sobre o que lhe interessa. Sobre etiquetas de toalhas de mesa e banho à ração para pintassilgo e unha encravada de chinchila com dor de barriga;
Seja gentil com os soldados das formigas e outros insetos (principalmente as abelhas) para que deixem você cruzar seu caminho, sempre;
Condene uma bruxa velha, estática há quatro dias na parede do banheiro. Ela deve estar tramando algo;
Nunca anote nada sobre tartarugas que ganham corridas de lebres brancas, mas sobre tartarugas trapaceiras. É, seja politicamente correto de vez em quando, como as etiquetas de toalhas de mesa e banho;
Por mais nojento que pareçam ser e por mais doenças que possam transmitir, não seja politicamente correto com os caramujos. Afinal, são excelentes bichinhos domésticos, para seu jardim, aquário ou cozinha (quando são escargot);
Nunca se esqueça de escrever sobre cartazes, faixas e placas, principalmente aqueles cheios de erros gramaticais, pois são deles que retiramos a maioria das metáforas para se escrever poesias e criar neologismos. Um exemplo maravilhoso, na porta de uma casa menos abastada (ou como gostam: humilde): “Vendo-se barato”. Parece engraçado e podem até dizer - os politicamente corretos - que está errado, mas é lírico se não fosse tão prostituído assim; Quanto ao humilde, em épocas de chuva, nessa casa não tem humildade, tem umidade.
Use seu caderninho para escrever sobre cocô de cavalo, pois o cheiro é inconfundível, você não esquece nunca, desde o dia que sentiu pela primeira vez. Também sobre as paredes descascadas das salas de espera de alguma repartição pública. É incrível o quanto se admira tanta precariedade quando se está em locais como estes, onde não há mais nada para se olhar. Em consultórios médicos, odontológicos, etc., etc., ao menos, há revistas para se distrair com a beleza alheia e sonhar com o quanto você poderia ser um pouquinho mais parecido com aquela personalidade fotografada para um especial de moda;
Escreva sobre a bomba atômica para nunca se esquecer dela. Para não esquecer, também, que foi a bomba atômica que deu origem ao pincel atômico. E já que reparou nas características físicas das personalidades nas revistas semanais dos consultórios, aproveite para escrever sobre as características físicas de corpos que se entrelaçam. Pessoas de cores diferentes são mais bonitas, quando juntas. Queira misturar um azul com uma amarela. Sairá um marcianinho verde. Há! Há! Há! Sei que minha piadinha foi péssima, mas escreva piadas sem graça, porque alguém muito sem graça vai se tornar mais simpático quando ler sua piadinha e descobrir que ele não está sozinho no mundo. É isso, seja irônico com você mesmo e escreva que você não escova os dentes quatro vezes ao dia para lhe lembrar, sempre, que ser politicamente correto é politicamente incorreto;
Admire os neologistas. Não seja tão lógico com a lógica para que você se lembre, sempre, que seu caderninho de apontamentos nunca coube em bolso algum de suas roupas.
Contudo, escreva tudo sobre o fútil, o significante, o útil, o inútil. Pratique peripatética enquanto faz seus registros de apontamentos e aconselhe a si mesmo, em cada página, a assimilação de tudo o que viu, leu e ouviu, provou, gostou e não gostou, vestiu, sentiu, tudo o que amou e tudo o que odiou, lamentou e chorou, tudo o que sorriu, gritou e bocejou, tudo o que tolerou, suportou, escandalizou, tudo o que teve, tem e terá. Tudo o que prometeu, cumpriu e ainda vai cumprir. Tudo o que pediu a Deus, tudo o que agradeceu a Deus, tudo o que pensa duas vezes antes de pedir e todo erro reconhecido e suprimido. Portanto, aceite suas próprias verdades e até mesmo aquelas mentiras que soltamos, de vez em quando. Tudo, não esqueça de nada. Pois, finalmente, seu caderninho de apontamentos tem o dever de lembrar-lhe que a maior de todas as ciências é o reconhecimento de sua própria miúda existência.
Laz Muniz
4 de jan. de 2008
2 de jan. de 2008
A Pedra No Meio do Caminho
Tempo
Essa aquarela eu fiz há bastante tempo e me baseei numa das poesias de Carlos sobre O Tempo... Vamos brincar, então, com as atualidades desses tempos e dizer que carlos caminha na espreita, silencioso, em busca de seu tempo, além, muito além. Vai como todo bom mineiro. Quietinho. Já aquele verme que nada sobre a terra, cavando e baforando o ar, podemos chamar de passado, do que ficou para trás. Ou presente, o que está ficando para trás...
Amigas do Laz - 375
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